"A plenitude da atividade humana é alcançada somente quando nela coincidem, se acumulam, se exaltam e se mesclam o trabalho, o estudo e o jogo; isto é, quando nós trabalhamos, aprendemos e nos divertimos, tudo ao mesmo tempo. (...) É o que eu chamo de 'ócio criativo', uma situação que, segundo eu [penso], se tornará cada vez mais difundida no futuro." (Domenico de Masi)
16 setembro, 2009
A História do 404
Antes do início dos tempos, quando a Internet ainda vivia somente nas
shells (terminais de comandos em texto) do Unix e do protocolo Gopher
(navegação sem gráficos, apenas textos); uma época em que mouse era
apenas um animal de esgotos e laboratórios e monitor "verde sobre
preto" era um luxo, um grupo de jovens cientistas no CERN (Laboratório
Europeu para Partículas Físicas - Suíça) começavam a trabalhar no que
viria a ser a grande revolução na mídia que o Homem jamais havia
testemunhado: a World Wide Web (Grande Rede Mundial), que mais tarde
viria a ser conhecida como WWW, ou simplesmente "a Rede". Seu
objetivo: criar uma infra-estrutura de base de dados capaz de oferecer
dados em vários formatos simultaneamente: a multimídia. O objetivo
final era claramente criar um protocolo que combinasse o texto com as
imagens e os apresentasse como um só documento, e ainda capaz de criar
ligações (links) para outros documentos e assim por diante: o
hipertexto.
Devido a estas mentes brilhantes serem relutantes em revelar seu
progresso ao mundo antes da conclusão dos trabalhos, eles começaram a
desenvolver seu protocolo em um ambiente fechado: a rede interna do
CERN. Milhares de horas/homem foram gastas no que mais tarde se
tornaria o padrão world-wide para documentos multimídia. Usando o
layout físico da rede e dos edifícios do CERN como uma metáfora para
"o mundo real" eles situaram funções diferentes do protocolo em
escritórios diferentes dentro do CERN.
Em um escritório no quarto andar (sala 404), eles colocaram a base de
dados central da World Wide Web: todo pedido para um arquivo era
encaminhado a esse escritório, onde duas ou três pessoas localizariam
manualmente os arquivos pedidos e os transferiam, pela rede, à pessoa
que fez as requisições.
Quando a base de dados começou a crescer, as pessoas no CERN
perceberam que podiam acessar arquivos extras, não somente os que
pertenciam aos seus papéis de pesquisas científicas. Então não somente
o número de pedidos cresceu, mas também o número de pedidos que não
poderiam ser cumpridos, geralmente porque a pessoa que pediu um
arquivo digitou o endereço errado para esse arquivo. Estes pedidos
defeituosos foram logo respondidos com uma mensagem padrão: "Room 404:
file not found", ou seja, "Sala 404: arquivo não encontrado".
Mais tarde, quando estes processos foram automatizados e as pessoas
podiam acessar diretamente a base de dados, os identificadores (ID)
para mensagens de erro permaneceram ligados à posição física onde o
processo ocorreu: "404: arquivo não encontrado".
Os números das salas permaneceram nos códigos de erro na liberação
oficial do HTTP (Hyper Text Transfer Protocol - Protocolo para
Transferência de Hiper Texto), quando a Web deixou o CERN para
conquistar o mundo, e ainda são mostrados quando um navegador faz um
pedido defeituoso a um servidor de internet. Em memória aos heróicos
garotos e garotas que vararam a madrugada durante todos aqueles meses,
naquele escritório pequeno e quente no CERN, a Sala 404 é preservada
como "um lugar na Web". Nenhuma das outras salas são usadas atualmente
para a Web. A Sala 404 é o único e verdadeiro momento para o início da
Web, um tributo a um lugar no passado, onde o futuro foi moldado.
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